Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 20 de janeiro de 2018

Marie-Laure David - Silêncio ‎

Tal como o poema postado na última quinta-feira, esta poesia também adota o silêncio como tema, embora, distintamente daquele, as miradas privilegiadas descrevem ocorrências que se passam muito provavelmente num bosque, e não no núcleo urbano.

Ela avança em linhas que reforçam o teor dos versos que as precedem, num fluir sem efeitos elípticos ou complexidades, tão transparente ao leitor que quase não permite superposições de escólios que divirjam de um núcleo comum, destinado, pois, ao consenso.

J.A.R. – H.C.

Menina Com Uma Flor
(Jacob Gerritszoon Cuyp: pintor holandês)

Le Silence

Si l’on s’arrète pour entendre
Pour entendre le silence
L’on entendra un bourdonnement
Un bourdonnement de silence.

D ’une étoile de la nuit tombera une vague lueur
Pour éclairer le silence, le silence des silences.
Un lapin s’arrêtera, s’arrêtera indécis
Troublé par la voix majestueuse du silence
II cherchera son terrier, son terrier forestier
Et dans l’ombre de la nuit il ne le trouvera pas.
Un sapin s’endormira sous les branches de sa mère
Sous les branches de sa mère s’endormira,
Et d’une voix suave le silence chantera
Les louanges du silence.

Sequoias Vermelhas Gigantes da Califórnia
(Albert Bierstadt: pintor germano-americano)

O Silêncio

Se a gente para a fim de escutar
A fim de escutar o silêncio
A gente ouve um zumbido
Um zumbido de silêncio.

De uma estrela da noite cai um vago clarão
Para clarear o silêncio, o silêncio dos silêncios.
Um coelho se detém, se detém indeciso
Perturbado pela voz majestosa do silêncio
Ele procura sua toca, sua toca na mata
E na sombra da noite não a encontra.
Um pinheiro adormece sob os braços de sua mãe
Sobre os braços de sua mãe ele adormece
E numa voz suave o silêncio canta
Os louvores do silêncio.

Nota de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães:

A tradução do poema “Silence” de Marie-Laure David foi publicada no final do artigo “Poesia de França”, que saiu no Correio da Manhã de 20 de junho de 1948. O artigo comenta a antologia Poètes d’aujourd’hui (1947), organizada por Dominique Aury e Jean Paulhan, na qual se encontra o poema traduzido. A autora é referida como sendo uma menina de dez anos – era neta de Jules Supervielle e veio a publicar alguns livros (ANDRADE, 2001, p. 396).

Referência:

DAVID, Marie-Laure. Le silence / O silêncio. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia traduzida. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. Introdução de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. Em francês: p. 128; em português: p. 129. (Coleção “Ás de colete”; 20)

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