Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Armindo Trevisan - Interiorano ‎

O poeta, somente com o passamento de seu bichano – atropelado na rua em frente à sua casa –, assimilou a visão de que a vida vale muito mais do que a secular sabedoria dos homens que se põem a legislar sobre o agir de seus pares, isso porque o espírito vital tem precedência sobre todos os seres a quem serve de princípio gerador.

E mais: a dizimar não apenas os gatos, mas também os próprios homens, anda por aí um rol pernóstico de algozes, a quem se poderia replicar a máxima cristã: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”. (Mateus 7:5)

J.A.R. – H.C.

Armindo Trevisan
(n. 1933)

Interiorano

Chorei a primeira vez
quando meu gato morreu
atropelado na rua fronteira
à minha casa.

Foi a primeira vez que chorei
com liberdade – não
infringindo hábitos
sociais.

Chorei porque meu gato
morreu e compreendi,
naquele instante sem futuro,
que qualquer ser vivo valia
mais do que a sabedoria
dos homens que legislam
sobre a vida.

Hoje, sinto-me solitário
na vastidão do planeta!

Parece-me que os gatos
desapareceram, ou foram adotados
por homens, que se converteram
em seus algozes
e, mais frequentemente,
em nossos algozes.

Em: “O Relincho do Cavalo Adormecido”

O Gato Morto
(Theodore Gericault: pintor francês)

Referência:

TREVISAN, Armindo. Interiorano. In: __________. Adega imaginária & O relincho do cavalo adormecido. 1. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 174.
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