Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Thomas Merton - Um Cartão de Natal ‎

Tendo por pano de fundo a cena da adoração dos pastores, o monge francês retrata o evento sob um inverno rigoroso, haja vista a descrição da neve a cobrir os pés dos que primeiro acorreram ao estábulo, para adorar aquele que, segundo Merton, dá sentido às suas vidas.

Trata-se, efetivamente, de uma meditação bem ao modo das que se propõem concentrar-se em uma estrela, na escuridão dos céus, com poder para guiar as pessoas em direção à luz renovadora do espírito, único meio de expressar a centelha divina que há em cada ser humano.

J.A.R. – H.C.

Thomas Merton
(1915-1968)

A Christmas Card

When the white stars talk together like sisters
And when the winter hills
Raise their grand semblance in the freezing night,
Somewhere one window
Bleeds like the brown eye of an open force.

Hills, stars,
White stars that stand above the eastern stable.

Look down and offer Him
The dim adoring light of your belief,
Whose small Heart bleeds with infinite fire.

Shall not this Child
(When we shall hear the bells of His amazing voice)
Conquer the winter of our hateful century?

And when His Lady Mother leans upon the crib,
Lo, with what rapiers
Those two loves fence and flame their brilliancy!

Here in this straw lie planned the fires
That will melt all our sufferings:
He is our Lamb, our holocaust!

And one by one the shepherds, with their snowy feet,
Stamp and shake out their hats upon the stable dirt,
And one by one kneel down to look upon their Life.

A Adoração dos Pastores
(Jacob van Oost: pintor flamengo)

Um Cartão de Natal

Quando as brancas estrelas parolam coesas como irmãs
E as colinas expostas ao inverno
Ostentam sua aparência imponente na noite gelada,
Nalgum lugar uma janela
Sangra como o olho castanho de uma pródiga força.

Colinas, estrelas,
Brancas estrelas a estacionar no oriente sobre o estábulo.

Olhe para baixo e ofereça-Lhe
A tênue luz veneradora de sua crença,
Cujo pequeno Coração sangra com fogo infinito.

Será que esta Criança
(Quando ouviremos os sinos de Sua voz admirável)
Não triunfará sobre o inverno de nosso século ominoso?

E quando a Senhora Sua Mãe se inclina sobre a manjedoura,
Veja, com que gládios
Esses dois amores brilham envoltos em suas auréolas.

Aqui, sobre esta palha, acham-se concebidos os fogos
Que extinguirão todos os nossos sofrimentos:
Ele é o nosso Cordeiro, nosso holocausto!

E, um a um, os pastores, com os pés tomados pela neve,
Batem-nos no chão e com os chapéus espanam o pó do estábulo,
E, um a um, prostram-se para a sua Vida contemplar.

Referência:

MERTON, Thomas. A christmas card. In: __________. The collected poems of Thomas Merton. 1st. publ., 6th. print. New York, NY: New Directions 1977. p. 184-185‎.


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