Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Paulo Bomfim - Poema da Procura

Como este poema calou fundo n’alma! Afigurou-se-me uma mensagem pessoalmente dirigida, com as alusões às mangueiras e ao trinado abundante dos pássaros a revoar entre as árvores, num transcurso de tempo que já remonta a várias décadas.

Tal qual se afirma, a melodia tranquila, de então, foi comutada pelo ruído lamentoso das “aves de metal” – seriam os aviões?!... Nada mais remanesce estável nos contrafortes da memória, capaz de entrar em ressonância com a concretude presenciada pelos nossos olhos contemporâneos: em cada canto, um anjo do ocaso se manifesta!

J.A.R. – H.C.

Paulo Bomfim
(n. 1926)

Poema da Procura

Em nenhuma esquina do teu bairro
Encontrarás o Domingo de tua infância
Povoado de pássaros e melodias.
Hoje, o céu é o lamento das aves de metal,
E os realejos se converteram
Em sereias portadoras de cantos funestos.
Inutilmente recordarás
A sombra antiga das mangueiras
E os crepúsculos tranquilos do mundo que perdeste.
Hoje, és o ser penetrado de ruídos
E em redor de tua angústia
Desfilam máquinas estranhas
E a multidão de rostos que não reconheces...
Além do teu corpo sepultado entre blocos de pedra,
Há um anjo da morte em cada esquina do universo...

Uma Tarde de Domingo
na Ilha de Grande Jatte
(Georges Seurat: pintor francês)

Referência:

BOMFIM, Paulo. Poema da procura. In: CAMPOS, Milton de Godoy (Ed.). Antologia poética da geração de 45. 1ª série. São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1966. p. 86.

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