Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 21 de outubro de 2017

Carmen Guasch - Dois

Este poema inicia-se com um aparte: não sou capaz de confirmar se sua autora, identificada no livro em referência como a espanhola Carmen Guasch é, seguramente, a mesma pessoa a que pertence a foto ora postada, cujo nome tem grafia um pouco diferente, embora também seja escritora, poetisa e espanhola.

Isto porque o organizador da antologia, Simón Latino, sobre o poema abaixo, não vai além da breve suma que ora transcrevo:

“Sem nenhuma referência biográfica ou bibliográfica recebemos desta autora o poema que segue: penetrante análise psicológica de um conflito sexual que somente uma poetisa autêntica é capaz de descrever. Sobriamente, sem palavras inúteis, uma mulher de carne nos mostra suas costas, ternamente feridas. Assim são os milagres da poesia” (LATINO, 1959, p. 154).

Pouco importa: a beleza aí está, em palavras bem pronunciadas, para asseverar que o relacionamento sexual de um casal está aquém das potencialidades de uma união plena – explico-me melhor, uma junção de dois em um, de corpo – não há como aliená-lo da realidade! –, mas, sobretudo, de alma.

J.A.R. – H.C.

Carme Guasch i Darné
(1928-1998)

Dos

Es inútil que yo busque
el fondo de ti mismo,
y que tú te debatas vanamente
por penetrar mis ojos.
Jamás encontraremos la perfecta unión,
el abrazo que nos funda
en un solo sér.
No. Somos dos.

Seremos dos eternamente
– dos cuerpos y dos almas diferentes –
desesperadamente dos.

Llevamos dentro de nosotros
un beso inmenso y contenido,
el beso que no nos hemos dado
y que nunca nos daremos completamente,
porque sabemos que somos impotentes
de hacernos uno solo
con nuestros ciegos abrazos obcecados;
porque estamos sintiéndonos lejos,
sintiéndonos dos,
tragicamente dos,
en medio de nuestro humano luchar
por poseernos.

O mais fogoso tango
(Connie Chadwell: pintora norte-americana)

Dois

É inútil que eu busque
o fundo de ti mesmo,
e que tu te debatas vãmente
por penetrar em meus olhos.
Jamais encontraremos a perfeita união,
o abraço que nos fundiria
em um só ser.
Não. Somos dois.

Seremos dois eternamente
– dois corpos e duas almas diferentes –
desesperadamente dois.

Levamos dentro de nós
um beijo imenso e contido,
o beijo que não nos demos
e que nunca nos daremos completamente,
porque sabemos que somos impotentes
para nos tornarmos um apenas
com nossos cegos abraços obcecados;
porque estamos nos sentindo distantes,
sentindo-nos dois,
tragicamente dois,
em meio à nossa humana luta
por possuir-nos.

Referência:

GUASCH, Carmen. Dos. In: LATINO, Simón (Dir.). Antología de la poesía sexual: de Rubén Darío a hoy. VI. Celeste carne. 1. ed. Buenos Aires, AR: Editorial Nuestra América, sept. 1959. p. 154. (“Cuadernillos de Poesía; n. 40)

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